Acho que ainda tenho algumas outras coisas a revelar. Acerca da tal viagem sem volta, claro. Viajei para nunca mais voltar. E, por isso, deixei toda a bagagem para trás. Deixei todos os rostos tristes que certamente mais dia menos dia sorririam de novo. Voltei-me definitivamente para dentro de mim. Primeiro sussurrando: tem alguém aí? Depois bravo. E depois transtornado.
Nem depois de todas as lágrimas que, estas sim, rolaram, alguém lá de dentro disse qualquer coisa. Chamei, então, por todos os rostos que havia deixado para trás. Em vão. Estava enfim só.
Agora é que começa a viagem. Agora vejo tudo em preto e branco. Vejo tudo que está de fato presente. Sem qualquer lampejo de hesitação dentro de mim. Morto. Vejo tudo com extrema objetividade e carinho e ternura como nunca havia experimentado. Aprendo qual o lugar de cada coisa.
Está aí uma viagem que não acabará.
Curiosos são os olhares que retribuem o meu olhar arruinado. Curiosos e fugazes como sempre foram. Maliciosamente fugazes. Violentamente fugazes.
Passei a me sentir nem triste, nem feliz. E por incrível que possa parecer, tampouco me sentia entorpecido. Aprenderia a viver assim. Aprenderia finalmente a viver entre a gente.