Outro dia, o rapaz aproximou-se da catraca e surpreendeu-se ao ver que o cobrador levava no colo uma criança pequena.
-Bom dia.
E bons dias murmurou o cobrador.
Supôs, então, o leitor enfadado, que por aí vinha fábula ou coisa que o valha.
Adiante.
-É seu o menino?
Pois é, disse, junto com as três, quatro moedas derrubadas sobre o balcão, o cobrador.
-Corinthiano?
-Corinthiano.
-Que beleza!
-Segura ele pra mim.
Aturdido, o tal rapaz enfiou a carteira no bolso de trás e rapidamente colocou uma das mãos sob as costas da pequena criança. Fudeu, pensou o rapaz. E o cobrador, que era tampouco, por sua vez, muito mais que um rapaz, supondo-se que por mais idade valha alguém mais, estendeu os braços.
-Segura a cabecinha dele, apressou-se em alertar a velhinha.
E o rapaz, com o braço trançado no poste, que designo eu assim, por falta de alternativa melhor, contorceu-se para não deixar a cabeça do menino pender.
Chegamos ao rapaz, com o garoto dormindo em seu colo, o cobrador com a cara lavada, e a velhinha que queria a criança para si.
Então o cobrador diz:
-É meu moleque. Batiza pra mim. Antônio vai ser o nome.
-Como?
-Antônio.
Eita! Mas, lavada que era a cara do cobrador, propôs-se a atender seu desejo o tal rapaz. Fez meio desajeitadamente um sinal, que supomos fosse o da cruz, mas que poderia ser qualquer, sobre a testa do garoto. E disse:
-Boa sorte, Antônio.
Boa sorte então teve o Antônio, suponho eu.