Então, leitores amigos, como eu ia dizendo a incoerência textual inexiste, pois sendo completa a suposta incoerência, traveste-se o texto como transgressão da norma, e passa, assim, a ser coerente pela ruptura e subversão que provoca.
Sim.
Ou seja, o conceito de incoerência não se aplica ao texto, uma vez que a coerência zero nunca é atingida. O valor mínimo da coerência textual é o valor da simples transgressão.
Sim.
Mas voltando ao assunto:
Certa feita, quando sem assunto e sem ânimo, veio-me a mente um texto.
Sem nervo algum o tal texto.
Era sobre luzes e postes de luz. E reflexos e a calçada durante a noite sob as árvores no friozinho sereno que me esfriava o pescoço e a barriga.
Me deu a vontade de fumar um cigarro. Vermelho. Marlboro. Sim.
Foda-se que o caubói morreu. De câncer. Quanto a gente vive?
Pretendo dar as 70 voltas. Um cigarro aqui e outro ali certamente não me irão privar desta ambição.
Voltando novamente ao assunto, e o cigarro na mão, e os nervos faltando. E uma antes da outra, as luzes passavam, por mim.
Eu caminhava, e só.
E essa história de luz começou a parecer sem propósito. Talvez sem nexo. Embora o nexo (seja lá que diabos ele seja) não me incomodava.
Revela-se a completa solidão. E o despropósito.
Desvendou-se por alguns segundos o enorme caminho que trilhava sem buscar uma parada. Sem a menor esperança (glimpse) de uma parada.
Sim. E que aconteceu com a porra das paradas? Cadê? Houve alguma?
Que se foda. Pelo menos eu tenho meu cigarro, pelo menos eu tenho meu jeans rasgado, pelo menos eu tenho meu olhar. E ele é meu.
Ele quase sempre se dirige pra onde eu quero.
E a gente caminha e caminha e caminha e se fode e se humilha e força o risinho. E manda tudo a merda olhando para o espelho.